Entrevista com Luiz Carlos Travaglia
ReVEL – Para o senhor, quais são as principais contribuições que a linguística moderna trouxe para o professor de língua materna?
Entrevista com Luiz Carlos Travaglia
ReVEL – Para o senhor, quais são as principais contribuições que a linguística moderna trouxe para o professor de língua materna?
Entrevista com Ingedore Vilaça Koch
ReVEL — O que mudou e o que ainda pode mudar no ensino de língua portuguesa a partir dos estudos de linguística textual?
Entrevista com Nina Spada
ReVEL — Quais são as contribuições mais importantes da linguística moderna para o ensino de língua estrangeira?
Spada — Uma das primeiras e mais significativas contribuições da linguística moderna para o ensino de segunda língua e de língua estrangeira foi a concepção de linguística estrutural, que, quando combinada com a teoria behaviorista de aprendizagem, levou ao desenvolvimento do método audiolingual. Esse método, considerado o primeiro método “científico” de ensino de língua, passou a dominar a área por muitas décadas antes da chegada da “revolução linguística” de Chomsky no final dos anos 1960, com a introdução da gramática universal (GU). A ideia de que existe uma gramática universal das línguas humanas se originou com a visão de Chomsky sobre a aquisição da língua materna (L1). Ele estava procurando uma explicação para o fato de que praticamente todas as crianças aprendem sua língua em um momento de seu desenvolvimento cognitivo em que estão experimentando dificuldades para conquistar outros tipos de conhecimento que parecem ser bem menos complicados do que a linguagem. Chomsky argumentou que isso não poderia ser conquistado pela mera exposição a amostras de linguagem no ambiente linguístico, porque a língua a que a criança é exposta é incompleta e algumas vezes “degenerada” ou fragmentária. Além disso, as crianças parecem ser capazes de adquirir sua língua materna sem qualquer feedback sistemático de correção, nem qualquer instrução. Chomsky então concluiu que as crianças devem ter uma faculdade inata da linguagem — um mecanismo com o qual elas já nascem — que as torna capazes de “decifrar o código” da linguagem que elas eventualmente irão aprender como língua materna, através de um processo de formulação de hipóteses e testes.
Políticas linguísticas
Se uma das possibilidades de definir políticas linguísticas diz respeito a tomadas de decisões sobre a língua, sobre seus usos e usuários, a escola como instituição dificilmente escapa delas. Pelo contrário, as chamadas políticas linguísticas de aquisição afetam diretamente o que se faz na escola e como se faz, pois é nas instituições educacionais escolares que a maior parte delas se efetiva. Tanto em linhas gerais (cf. Spolsky, 2016a), quanto em casos específicos (cf. Sarmento, 2016), as políticas linguísticas educacionais figuram em destaque. Além das discussões escolares que envolvem a legislação educacional vigente e os documentos prescritivos elaborados pelas instâncias governamentais, há casos que repercutem em diferentes esferas e mobilizam um conjunto de atores sociais, nem todos com a mesma força. Exemplos disso são a adoção e a implementação do Acordo Ortográfico, ou a gestão do Programa Nacional do Livro Didático (Sarmento, 2016). Em ambos os casos, tanto os processos quanto os produtos finais tocam diretamente a educação escolar, e não apenas o ensino de língua portuguesa ou de línguas adicionais, mas de resto todos os componentes curriculares e o próprio funcionamento da escola. Em ambos os casos, muito se discutiu nos meios de comunicação e entre especialistas. Os professores, no entanto, nem sempre são escutados. Embora sejam agentes da implementação, nem sempre é ocupado o pouco espaço de discussão que lhes é oferecido, ou que é por eles conquistado. A preocupação de muitos em como ensinar as alterações ortográficas que vieram com o Acordo é por diversas vezes respondida pela publicação de manuais ou encartes editoriais que resumem o conjunto de novas regras, sem dimensionar essas informações nas práticas de linguagem, nem na pauta mais ampla das reponsabilidades formativas dos educadores da linguagem. A escola parece ter ficado com mais uma tarefa difícil, entre as tantas diversas que já enfrenta, sobre a qual quase não desenvolve agentividade.
DO QUE TRATAM elas?
Muita gente que ouve a expressão “políticas linguísticas” pela primeira vez pensa em algo solene, formal, oficial, em leis e portarias, em autoridades oficiais, e pode ficar se perguntando o que seriam leis sobre línguas. De fato, há leis sobre línguas, mas as políticas linguísticas também podem ser menos formais – e nem passar por leis propriamente ditas. Em quase todos os casos, figuram no cotidiano, pois envolvem não só a gestão da linguagem, mas também as práticas de linguagem e as crenças e valores que circulam a respeito delas.
ENTREVISTA COM WILLIAM LABOV
ReVEL – O senhor teve uma enorme importância nos desenvolvimentos da Sociolinguística nos Estados Unidos. E pode ser considerado o fundador da Sociolinguística Variacionista. O senhor poderia nos contar um pouco sobre a sua história no campo da Sociolinguística?
Labov – Quando eu comecei na Linguística, eu tinha em mente uma nmudança para um campo mais científico, baseado na maneira como as pessoas usavam a linguagem na vida cotidiana. Quando eu comecei a entrevistar pessoas e gravar suas falas, descobri que a fala cotidiana envolvia muita variação linguística, algo com que a teoria padrão não estava preparada para lidar. As ferramentas para estudar a variação e a mudança sincrônica surgiram dessa situação. Mais tarde, o estudo da variação linguística forneceu respostas claras para muitos dos problemas que não eram resolvidos por uma visão discreta da estrutura linguística.
EM PAZ COM A LÍNGUA
Num evento recentemente ocorrido em São Paulo, o linguista Carlos Alberto Faraco disse que a sociedade brasileira precisa “fazer as pazes com a sua língua”. Conforme ele explicou, desde o século XIX, a partir da Independência, se instaurou no Brasil uma mentalidade profundamente conservadora no que diz respeito à língua. O país se tornou independente de Portugal, mas o espírito colonizado e bajulador da Europa por parte das oligarquias dominantes impediu que as características linguísticas propriamente brasileiras fossem aceitas com tranquilidade.
PORTUGUÊS BRASILEIRO E SOCIEDADE NO BRASIL: debate histórico e político
DICIONÁRIO CRÍTICO DE SOCIOLINGUÍSTICA, de Marcos Bagno, e HISTÓRIA SOCIO POLÍTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA, de Carlos Alberto Faraco, foram lançados em evento no Memorial da América Latina.
Uma leitura instigante
Acabei de ler Ensinar na Universidade – conselhos práticos, dicas, métodos pedagógicos. O livro, do professor Markus Brauer, foi escrito em francês e traduzido para o alemão, o espanhol e o português brasileiro para a Parábola Editorial (São Paulo, 2012), em tradução correta e detalhista de Marcos Marcionilo [http://bit.ly/2vsYhvb].
O que são atividades, tarefas ou exercícios na aula de Língua Portuguesa?
Parece provocação, mas precisamos revisitar o óbvio: o que são atividades, tarefas ou exercícios na aula de Língua Portuguesa? Utilizamos essa nomenclatura há muito tempo e agimos como se os sentidos estivessem estabilizados e como se todos, iniciantes e veteranos, ao usarem as mesmas expressões, se referissem aos mesmos objetos. Na realidade, porém, a elaboração de atividades e tarefas ou exercícios na formação do professor de português é um aspecto não tematizado como parte de um saber profissional.
Sem dúvida, elaborar atividades e tarefas ou exercícios é inerente à atuação docente. Mas em que momento da formação inicial esse aprendizado é sistematizado? A crença tácita na área é a de que os professores de Prática de Ensino ou os orientadores/supervisores de estágio devem se encarregar de ensiná-lo. A depender de como essa etapa da formação está organizada, espera-se que o(s) professor(es) de Didática tenha(m) abordado tal assunto em suas aulas. Mesmo que os professores de prática de ensino ou supervisores de estágio docente assumam a responsabilidade de ensinar a seus estagiários como formular exercícios, o tempo é quase sempre reduzido e são elaboradas poucas atividades. A observação geral sobre nossa atuação tem demonstrado que tal sistematização deveria começar desde as primeiras disciplinas da licenciatura.
A recepção dos estrangeirismos no comércio
Com respeito à presença de vocábulos na maior parte oriundos da língua inglesa no português brasileiro, comumente observados em nomes de empresas, estabelecimentos comerciais, além de cartazes e anúncios em vitrines de lojas, lembro-me que, ao tomar café de manhã na “Padaria Breadway”, num belo dia de verão, numa cidade praieira no litoral paulista, e ao abrir a Folha de S.Paulo de 6 de janeiro 2000, vi meu texto “Língua pasteurizada” publicado na página 3 de “Tendências e Debates” (Schmitz, 2000a).
Um modelo fractal
Os modelos de aquisição de línguas não contemplam todos os processos envolvidos na aquisição de uma língua, muito menos, os de uma língua estrangeira. Vejo esses modelos como visões fragmentadas de partes de um mesmo sistema. Embora seja possível teorizar sobre a existência de alguns padrões gerais de aquisição, cada pessoa tem as suas características individuais, sendo impossível descrever todas as possibilidades desse fenômeno. Há variações biológicas, de inteligência, aptidão, atitude, idade, estilos cognitivos, motivação, personalidade e de fatores afetivos, além das variações do contexto onde ocorrem os processos de aprendizagem ─ quantidade/qualidade de input disponível, distância social, tipo e intensidade de feedback, cultura, estereótipos, entre outros.
O livro que faz amar os livros mesmo que você não goste de ler!
Nem 1% dos leitores da Parábola Editorial, muitos dos muitos mais que nos acompanham [odeio a palavra “seguidores”], se deu conta do lançamento de O livro que faz amar os livros mesmo que você não goste de ler!, em agosto de 2014, de Françoize Boucher.
O que eles gostam de ler?
Pesquisa mostra que estudantes escolhem a tira como leitura preferida
Os primeiros dias de 2014 trouxeram uma pesquisa com resultados reveladores e que dão muito o que pensar. O estudo revela que as “narrativas em tiras” (voltaremos a essa expressão já, já) são a leitura preferida dos estudantes da rede pública de ensino de São Paulo.
Quando nasce uma língua nova?
A grande maioria das pessoas acredita que definir o que seja uma “língua” é algo fácil e cômodo, e que os linguistas sabem com precisão onde termina uma língua e onde começa outra. Nada mais distante da verdade! Isso porque a definição de “língua” escapa das mãos dos linguistas — que há séculos confessam ser impossível enunciá-la — e vai pousar no terreno pantanoso daquilo que se chama ideologia. Sim, a definição do que é uma “língua” tem muitíssimo mais a ver com questões políticas, religiosas, identitárias etc. do que com questões propriamente linguísticas, isto é, fonético-fonológicas, morfossintáticas, lexicais etc.
A sociolinguística costuma ser definida como um ramo interdisciplinar nos estudos da linguagem. Para entendermos onde repousa essa interdisciplinaridade, vamos remontar sucintamente a suas raízes e discutir as subáreas que se abrigam sob a denominação sociolinguística.
Em meados do século XX, muitos estudiosos de linguística na Europa, palco de duas guerras mundiais, fixaram residência nos Estados Unidos. Eram pesquisadores renomados, com formação advinda da linguística saussuriana e do Círculo Linguístico de Praga.
Um sistema semiótico infinito
Analisar cientificamente uma língua não é nada fácil. Os linguistas, que são os estudiosos que se dedicam profissionalmente a esta tarefa, sabem disso muito bem porque se deparam continuamente com as inesgotáveis complexidades estruturais e funcionais da língua.
Para se ter uma ideia dessa complexidade, basta lembrar que qualquer língua é uma realidade infinita. Entendamos bem isso. O número de sons da fala de que se serve uma língua é finito (em torno de três dezenas). O número de suas palavras (ainda que imenso) é finito (calcula-se que uma língua como o português brasileiro tem algo em torno de meio milhão de palavras). O número de regras com as quais organizamos os enunciados é também finito (embora não tenhamos ainda ideia clara de sua quantidade).
Os diversos tipos de gramática e suas funcionalidades
LETRA MAGNA: Vamos começar por um questionamento genérico: o que caracteriza uma gramática?
Uma introdução ao estudo da história das línguas
Não há exagero em dizer que o maior acontecimento dos tempos modernos na área dos estudos das línguas foi a descoberta de que elas têm história. São realidades dinâmicas, que mudam continuamente no tempo, e têm, portanto, um passado. Essa descoberta mudou substancialmente a nossa compreensão do fenômeno linguístico. Mas teve também efeitos amplos sobre toda a compreensão que a Europa tinha de sua própria cultura.