6 Dicas para transformar sua aula de português
Há muitas evidências de que a prática de ensino da língua não tem conseguido resultados que respondam, satisfatoriamente, às demandas sociais do momento atual
6 Dicas para transformar sua aula de português
Há muitas evidências de que a prática de ensino da língua não tem conseguido resultados que respondam, satisfatoriamente, às demandas sociais do momento atual
Uma forma de inserir o aprendiz na cultura letrada
O linguista Marcos Bagno considera lamentável que a imagem da língua portuguesa tenha sido empobrecida e reduzida a uma nomenclatura profusa e confusa e a exercícios mecânicos de análise sintática e morfológica. Para ele, essas são “práticas que se revelam, ao fim e ao cabo, inúteis e irrelevantes para, de fato, levar alguém a se valer dos muitos recursos que a língua oferece”. Ganhador do Prêmio Jabuti, Bagno é professor da Universidade de Brasília (UnB), pesquisador associado do Instituto da Língua Galega – Universidade de Santiago de Compostela, e atua no campo da educação linguística. No livro Preconceito linguístico (Parábola Editorial, 2015), o escritor reitera seu discurso em favor de uma educação linguística voltada para a inclusão social, o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural brasileira.
Contrabando poético na escola
Nunca aprendi a ler poemas na escola. Passei pelo ensino público, pelo privado... e os textos poéticos, quando apareciam, eram vítimas dos clássicos esquartejamentos sintáticos. Um versinho de Vinicius aqui, alguma coisa de Drummond acolá. Tudo oco de sentido. Nada da importância da leitura na escola, nem dentro, nem fora da sala de aula
Espécie em Extinção (epílogo)
Este é o terceiro texto no qual me atenho à situação dos professores no Brasil. No primeiro artigo, expusemos dados e as condições gerais do magistério hoje no país; no segundo, enfrentamos as péssimas condições de trabalho que têm espantado gente boa da sala de aula. Agora, neste epílogo, vou falar da autoestima de nossos professores. Ou do que restou dela.
Fazer chacota de professor virou moda no Brasil nas últimas décadas. Se, sob a alegação de que o humor é uma forma de denúncia que chama a atenção para a condição triste de nossos professores, as diversas escolinhas malucas da televisão procuraram, de boa fé, denunciar as mazelas do magistério, parece que o tiro saiu pela culatra. Os “professores-Raimundos”, mal pagos e sofredores, se multiplicaram na cabeça da população não na forma de uma espécie a ser salva, mas na forma de uma espécie condenada. Não poucas vezes, vi, em atividades culturais da escola, arremedos da “Escolinha do Professor Raimundo” em que os alunos faziam grotescas imitações de seus próprios professores, desrespeitosas sátiras de seus mestres, como se eles não fossem dignos de qualquer respeito.
Escrever é uma prática
Escrever é uma prática, ou seja, aperfeiçoa-se a escrita praticando a escrita. Praticar a escrita é escrever. Quem escreve um artigo acadêmico e só volta a escrever quando tiver de escrever outro artigo acadêmico não está propriamente praticando a escrita, principalmente se escrever esse outro artigo seguindo as mesmas instruções pelas quais se orientou para escrever o anterior, assim como quem preenche um formulário.
Os diferentes usos da vírgula
Vamos pensar nos diferentes sentidos das frases abaixo:
Não, espere! / Não espere!Aceito, obrigado. / Aceito obrigado.Isso só, ele resolve. / Isso, só ele resolve.Esse, juiz, é corrupto. / Esse juiz é corrupto.Vamos perder, nada foi resolvido. / Vamos perder nada, foi resolvido.“Não queremos saber!” / “Não, queremos saber!”Multimodalidade e "poder semiótico"
Para professores e pesquisadores que estão repensando as aulas de português na perspectiva de articular modos de produção de texto e fruição de leitura dos alunos, Textos multimodais precisa ser livro de cabeceira. Nele, Ana Elisa Ribeiro faz uma reflexão informada sobre o ensino da língua materna por meio de textos em que não se excluem, deliberadamente, fotos, ilustrações e gráficos. As investigações teorizam multimodalidade, leitura e infografia, mostrando três “casos com jeito de sugestões”, a saber: uma proposta de atividade de retextualização (do oral para o escrito), testes de escrita e leitura com alunos do 3° ano do ensino médio em duas escolas públicas e o comparativo de produção verbovisual entre uma criança de 8 anos e uma designer profissional. Os relatos das experiências da professora-autora em oito capítulos fazem do livro um retrato de como o ensino desconsidera a inclusão atrativa e interessante dos textos multimodais, que poderiam conectar, e muito, os estudantes às produções de circulação social como mapas, quadros, linhas do tempo, fluxogramas e narrativas.
Estudo da língua e fenômenos linguísticos
A reflexão sobre as línguas não é nova, é milenar, mas seu estudo cientificamente embasado é extremamente jovem, acaba de completar um século. Sobre as línguas, e sobre a língua portuguesa, em particular, reina ainda muita ignorância. Sabe-se bastante sobre a estrutura gramatical da língua, mas pouco sobre os fenômenos sociais de uso dessa língua. Estes clamam por explicações bem fundamentadas na ciência, e não apenas guiadas por juízos de valor subjetivos e dogmáticos.
Apesar de que muitos se queixam da dificuldade de aprender as regras da gramática normativa da língua portuguesa e até, por causa disso, pensam que “não sabem” português, o maior problema nessa área é a ignorância sobre as funções sociais da língua. Por incrível que pareça, nem os intelectuais e profissionais da mídia de maior destaque na sociedade brasileira demonstram compreender efetivamente o que é e como funciona uma língua. Talvez por isso mesmo é que Sírio Possenti diz que esses profissionais leem as gramáticas como fundamentalistas leem seus livros sagrados, ou seja, procurando identificar neles os erros dos infiéis, a fim de condená-los ao fogo do inferno.
Duas pequenas frases
Ler textos é sempre uma atividade complexa. Foi-se o tempo em que se imaginava que uma mensagem poderia ser codificada, se por “codificada” se entendesse que todo o sentido deveria estar expresso por signos organizados segundo regras, sejam da sintaxe, sejam do texto. Hoje se sabe que grande parte do sentido está implícito (uso esse termo para recobrir um conjunto diferente de estratégias).
O que não está expresso e, no entanto, o leitor “descobre” é, frequentemente, um conhecimento, um saber evocado. Para usar um exemplo bem banal (comentado por Umberto Eco em um de seus livros): se numa viagem de carruagem nunca se fala dos cavalos, isso não significa que eles não estão na história. Se, ao final, numa parada, o viajante pede que os cavalos sejam alimentados, nenhum leitor vai estranhar. Ele sabe que carruagens são puxadas por cavalos.