Blog da Parábola Editorial

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Os escritores e a gramática

Escritores

(Este é um texto de 2008, que republico por várias razões; uma é homenagear a argúcia de Mattoso Camara; outra é ir na onda de valorizar Machado; ainda outra é… outra).

 

Por razões que certamente valeria a pena discutir melhor, ou discutir de novo, as gramáticas citam sempre (e apenas) frases de escritores em abonação às regras que propõem, mesmo que se trate de uma simples concordância de verbo com sujeito. Em vez de “o pato nada / os patos nadam” ou “o juro cai / os juros não caem”, declarações que não precisam de autor, temos de ler que “A chuva caía...” é da lavra de Luandino Vieira. “Sou eu que lhe peço” não é boa porque todo mundo diz, mas porque foi escrita por Castro Soromenho. Por exemplo, apesar de “Tinha uma pedra no meio do caminho” ser um verso bem antigo, o verbo “ter” ainda não mereceu aval das gramáticas nesse sentido e uso.

(Um comentário quase à parte: escritores raramente leem gramáticos; posso ser muito distraído, mas nunca vi informações sobre as gramáticas encontradas nas bibliotecas de escritores; mas eles sempre têm muitos dicionários; parece mesmo que o grande fetiche são as palavras. Já os gramáticos leem escritores, mas não muitos. Ilustrativo é o ensaio de Cláudio Cézar Henriques, “Quando os gramáticos leem os literatos”, publicado na revista Tempo Brasileiro 124, de 1996!! Eles selecionam bem o que citam. Henriques fornece os percentuais de exemplos selecionados de cada um dos poucos, bem poucos escritores.)

Uma das diferenças entre linguistas e gramáticos é o tipo de corpus considerado. Perini (Princípios de linguística descritiva, Parábola, 2006), entre outros, parte de exemplos caseiros (“Papai chegou a São Paulo”, “Os caixotes estão no porão”), enquanto Celso Cunha e Lindley Cintra (mas não só eles) parecem precisar do abono de um falante superior, que o escritor supostamente seria. A coisa funciona assim: se Fernando Pessoa escreveu “Se calhar, tudo é símbolos”, então eu também posso (posso?).

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Uma história da linguística, tomo 1

Bagno-BLOG

Uma história da linguística: tomo 1da Antiguidade ao Iluminismo é a primeira obra escrita em português que se propõe retraçar o longo caminho que os seres humanos têm percorrido desde os tempos mais remotos e em diferentes civilizações na busca por decifrar essa faculdade exclusiva da espécie que é a linguagem e sua manifestação, entre outras formas, no que se convencionou chamar língua, essa entidade tão entranhada em nós e ao mesmo tempo tão fugidia que escapa a qualquer definição satisfatória. Este primeiro volume parte da Mesopotâmia, onde se constituíram as primeiras sociedades urbanizadas da história, aborda as reflexões linguísticas empreendidas nas tradições hindu, islâmica e judaica para em seguida se fixar na Europa e nos desdobramentos das teses sobre a língua/linguagem desde a Antiguidade greco-romana até os séculos 17 e 18, depois de passar pela Idade Média e pelo Renascimento. Um segundo volume se dedicará inteiramente ao século 19 até alcançar as duas primeiras décadas do século 20, período em que a linguística vai se constituindo como disciplina autônoma, dotada de teorias e metodologias próprias, capazes de conferir a ela o ambicionado rótulo de ciência.

Pode-se dizer que as reflexões sobre língua e linguagem na tradição ocidental derivam essencialmente das tentativas de dar conta de três principais “problemas”:

(1) a origem (e a natureza) da linguagem e das línguas;

(2) a relação entre linguagem e pensamento;

(3) a mudança linguística.

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