Blog da Parábola Editorial

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Normativismo do bom

BlogXOn ... o livro não apenas respeita e valoriza o seu público leitor como ainda confraterniza com ele.

 

 

Xoán Lagares [UFF]

 

Confesso que minha primeira intenção era intitular este texto “Normativismo do bem”, mas logo achei essa expressão muito moralista e resolvi, por me identificar mais com uma ética imanente spinoziana, fazer referência a um normativismo que é tão bom quanto pode ser, uma atitude diante da língua que, sem trair sua natureza, se mede pelas suas consequências, por fazer o possível para cumprir uma missão cujos resultados sejam bons para todas as pessoas.

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Posso lhe falar sobre o "lhe"?

Capturar2 A palavra mágica aqui é

Marcos Bagno

Há pouco tempo vi uma postagem numa rede social em que um anjo perguntava a Deus se era possível castigar os seres humanos “sem causá-los muito mal”. Onde se esperaria um “lhes” (mas quem é esse “se” que esperaria?), causar-lhes, aparece um “los”, causá-los. A gente vê coisa semelhante quando as pessoas dizem e escrevem agradecê-lo pelo convite ou isso o permite fazer tal coisa. Para quem estuda a mudança linguística esse fenômeno é um prato cheio.

Uma coisa que diferencia radicalmente o português brasileiro do português europeu e, de resto, de todas as outras línguas românicas é o tratamento que damos aos chamados pronomes pessoais. Em tempo: quando nós linguistas empregamos o nome de uma língua sem outra especificação, como acabei de fazer, estamos nos referindo à língua falada habitualmente, em seus empregos mais espontâneos, menos monitorados (isto é, sem que a pessoa preste excessiva atenção ao que está dizendo e principalmente a como está falando). Na sociolinguística variacionista, essa variedade falada recebe o nome de vernáculo e é a menina dos olhos da pesquisa sobre mudança linguística. Por quê? Porque é na fala habitual, não monitorada, que nós, falantes, deixamos vir à tona tranquilamente as formas inovadoras, que representam estágios diferenciados da mudança.

O que faz surgir essas forças inovadoras? Uma série de fatores que não posso explicar aqui (mas, para quem se interessar, vêm explicados no meu livro Língua, linguagem, linguística: pondo os pingos nos ii, Parábola, 2014). O que interessa é saber que os processos de mudança ocorrem nesse vernáculo, nessa fala não monitorada. Foi falando sem parar que as pessoas, nas diferentes áreas do antigo império romano, remodelaram o latim, até ele ficar tão diferente em cada região que passou a receber outros nomes. Um latim, aliás, que era essencialmente falado e, portanto, muito diferente desse modelo de língua esculpido em mármore que é o que se ensinava antigamente nas escolas e ainda se ensina nas universidades. Um latim chamado vulgar que, como o próprio nome indica, era falado por pessoas comuns e não por poetas e oradores. Também, como toda língua humana, apresentava enorme variação de um lugar para o outro, de uma classe social para outra etc. Desse modo, é divertido ver que tanta gente que “defende o português” da “ruína” e da “corrupção”, que quer conservar a língua na sua “pureza”, não sabe (ou quando sabe, finge que esqueceu) que o português é a evolução de uma língua vulgar, repleta de “erros”, falada por gente simples, iletrada e que, em muitíssimos casos e nas primeiras gerações, falava o latim como segunda língua. Enquanto em latim “clássico” se dizia domus, equus, os, em latim “vulgar” se dizia casa, caballus, bucca, de onde provêm, obviamente, casa, cavalo e boca. Mas vamos voltar ao lhe.

 

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