Blog da Parábola Editorial

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Análise do discurso

Análise do discurso

 

Pesquisas relevantes em análise do discurso

 

A Análise do Discurso é uma das áreas mais populares da Linguística, especialmente no Brasil. Não é difícil chegar a essa constatação. Basta folhear os (ou navegar pelos) cadernos de programação dos inúmeros congressos de Linguística que ocorrem todos os anos no país: a grande maioria das comunicações inclui-se no rol de trabalhos com o discurso.

 

Mas a que se deve essa popularidade da Análise do Discurso? Algumas más línguas diriam que sua popularidade decorre de uma suposta falta de exigência metodológica; ou ainda, que há muitos analistas do discurso porque, para fazer Análise do Discurso, basta interpretar textos, não é preciso sequer saber linguística.

 

Nada mais equivocado que isso! Afirmações como essas testemunham um completo desconhecimento da área – de sua história de constituição, de seus objetivos e, sobretudo, dos relevantes trabalhos que ao longo de mais de cinquenta anos vêm sendo produzidos em muitos lugares do mundo, incluindo o Brasil.

 

A Análise do Discurso (especificamente a de linha francesa, também conhecida como AD) nasceu, no final da década de 1960, tentando responder à questão “Como ler um texto?”. O ponto de partida assumido pelos analistas do discurso para responder a essa questão foi o pressuposto de que o texto deve sempre ser abordado na relação com suas condições de produção. Os sentidos de um texto, bem como suas formas de organização e de circulação, resultam das condições históricas, sociais, ideológicas em que é produzido.

 

O discurso, objeto de análise da AD, constitui-se exatamente nessa confluência entre uma materialidade (o texto) e uma exterioridade (condições sócio-histórico-ideológicas em que é produzido). Para analisar discursos, portanto, é preciso considerar a enunciação dos textos em vários aspectos, e os trabalhos desenvolvidos na área têm feito isso de diversas maneiras: ora enfatizando relação entre discurso e posicionamento ideológico; ora dando visibilidade à polêmica travada ente discursos que se opõem ou que se alinham em alguns aspectos; ora focalizando os modos e as redes de circulação dos discursos; ora, ainda, buscando explicar questões relacionadas às imagens que se constroem dos enunciadores, à autoria, à gestão dos textos, aos gêneros do discurso e a tantos outros aspectos extremamente relevantes para a compreensão do funcionamento dos discursos.

 

No Brasil, as pesquisas produzidas nas universidades e publicadas em revistas científicas, os capítulos e livros publicados por editoras e os livros traduzidos testemunham a construção sólida de conhecimento na área.

 

b2ap3_thumbnail_Genese_do_discurso_20170512-140231_1.jpg A tradução de Sírio Possenti do livro Gênese dos Discursos de Dominique Maingueneau possibilitou a realização de inúmeras pesquisas no Brasil, realizadas a partir do quadro teórico-metodológico proposto por Maingueneau, que privilegia a análise de polêmicas discursivas. Analisando a polêmica travada entre duas correntes religiosas católicas do século XVII na França (o jansenismo e o humanismo devoto), Maingueneau demonstra que a identidade de cada um desses discursos decorre do modo como eles se relacionam entre si. Esse tipo de resultado possibilitou postulações teóricas poderosas, como a de que o interdiscurso precede o discurso, do que decorre que os discursos não têm suas identidades definidas a priori, para depois serem postos em relação; diferentemente, é na relação interdiscursiva que a identidade de cada discurso vai se delineando.

 

O mesmo quadro teórico-metodológico se mostrou poderoso para analisar polêmicas que ocorreram/ocorrem em solo brasileiro, como a que se deu entre os modernistas brasileiros e os “passadistas” (realistas, parnasianistas e simbolistas) no campo da literatura, e entre a Bossa Nova e a Jovem Guarda, no campo da MPB; como a que ocorre entre a Renovação Carismática Católica e a Teologia da Libertação no campo religioso católico, entre linguistas e gramáticos no campo da política (linguística), entre os evolucionistas e criacionistas no campo da biologia, para me referir apenas a alguns exemplos.

 

O livro Cenas de enunciação, uma compilação de nove textos de Dominique Maingueneau (que ainda não tinham sido traduzidos para o português), organizada por Sírio Possenti e Maria Cecília Pérez de Souza-e-Lima, apresentou ao mercado editorial brasileiro desenvolvimentos teóricos de conceitos já conhecidos do público brasileiro, mas também conceitos novos, que têm contribuído muito para a explicação do funcionamento dos discursos. b2ap3_thumbnail_Cenas_da_enunciacao.jpg

 

Por exemplo:

(i) a constatação de que há discursos em nossas sociedades que têm um estatuto diferente por serem tomados como referências para toda uma cultura (como os discursos literário, filosófico, científico, religioso) e que, por isso, têm um modo de funcionamento específico, diferente dos demais;

(ii) a abordagem de questões referentes ao funcionamento das mídias, ao modo como enunciados são retomados e publicizados, como são postos em circulação e quais os efeitos desses modos de gerenciamento da enunciação nos sentidos produzidos;

(iii) a consideração de que cada texto particular constrói uma cena de fala específica que ajuda a explicar o modo de funcionamento dos gêneros do discurso;

(iv) a percepção de que o leitor constrói uma imagem do enunciador de um texto com base no modo como ele enuncia e em estereótipos sociais.

 

b2ap3_thumbnail_Discurso_pornografico.jpg O livro O discurso pornográfico, de Dominique Maingueneau (trad.: Marcos Marcionilo), também explora a problemática do estatuto dos discursos, mas voltando-se especificamente para o discurso pornográfico que tem, segundo o autor, um estatuto atópico, isto é, trata-se de um discurso que não tem pleno direito de cidadania e, por isso, é clandestino, nômade, oculto... O interessante dessa obra é que, por meio de sua leitura, pode-se perceber como as sociedades gerem os discursos que, do ponto de vista da norma, não têm direito de existir.

 

O livro Frases sem texto, do mesmo autor, explora, por sua vez, a problemática do modo como os enunciados são retomados e postos a circular, com a “novidade analítica” de tratar as frases destacadas de textos como aforizações, isto é, como frases cujas propriedades fazem com que sejam “consumidas” como se nunca tivessem feito parte de textos. Esse modo específico de funcionamento enunciativo é abordado pelo autor no contexto das mídias, do universo escolar e dos discursos constituintes (o religioso, o filosófico, o literário, o científico). b2ap3_thumbnail_Frases_sem_texto.jpg

 

A obra é traduzida por Sírio Possenti, Aline Saddi Chaves, Ana Raquel Motta, Glaucia Muniz Proença Lara e Roberto Leiser Baronas, pesquisadores brasileiros que desenvolvem pesquisa na área de AD, a partir do quadro teórico-metodológico proposto por Maingueneau.

 

b2ap3_thumbnail_Nocao_de_formula-A.jpg Do mesmo modo, o livro da francesa Alice Krieg-Planque, A noção de “fórmula” em Análise do Discurso: quadro teórico e metodológico (trad.: Luciana Salazar Salgado e Sírio Possenti) se debruça sobre o estudo da circulação de discursos, mas a partir da proposição de uma nova categoria analítica, a “fórmula”: uma formulação linguística que, por ser empregada em dados momento e espaço públicos, cristaliza questões políticas e sociais que a própria expressão contribui para construir (p. ex., as fórmulas “mundialização”, “globalização”, acessibilidade, etc.). Além da relevância política de um livro como este, vale destacar a fineza das análises realizadas pela autora, no entremeio da AD e das teorias das ciências sociais, da informação e da comunicação.

 

Na mesma linha de publicação do livro Cenas de enunciação – refinamento de conceitos já conhecidos do público brasileiro e apresentação de novos conceitos –, Doze conceitos em Análise do Discurso reúne doze textos de Dominique Maingueneau. O livro, também organizado por Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva e Sírio Possenti, conta, do mesmo modo que Cenas de enunciação, com o trabalho de tradução de vários analistas do discurso que desenvolvem, nas instituições a que estão filiados, pesquisas a partir de pressupostos teóricos postulados por Maingueneau. b2ap3_thumbnail_Doze_conceitos.jpg

 

Os analistas envolvidos na tradução dessas duas coletâneas são: Sírio Possenti, Maria Cecília Perez de Souza-e-Silva, Adail Sobral, Ana Raquel Motta, Décio Rocha, Fabio César Montanheiro, Fernanda Mussalim, Graziela Kanin Kronka, Helena Nagamine Brandão, Luciana Salazar Salgado, Maria Inês Otranto, Nelson Barros da Costa, Roberto Leiser Baronas. O trabalho de pesquisa desses analistas do discurso pode ser encontrado em renomadas revistas científicas de Linguística do país e em capítulos de livros, livros autorais e organizações de coletâneas, publicados por diversas editoras brasileiras, incluindo a Parábola Editorial.

 

b2ap3_thumbnail_Discurso_e_analise.jpg Discurso e Análise do Discurso, o mais recente livro de Dominique Maingueneau publicado no Brasil (tradução Sírio Possenti), faz um mapeamento da Análise do Discurso, passando por questões clássicas, mas também apresentando, com detalhe, novas problemáticas e temas (como o das redes sociais e internet) que impõem desafios para os analistas do discurso.

 

Das publicações de analistas do discurso brasileiros, gostaria de destacar dois livros de Sírio Possenti que cumprem um papel crucial em qualquer área do conhecimento: o de polemizar. Em Os limites do discurso, o autor dedica-se a problematizar certas formulações teóricas tidas como razoavelmente perenes em AD, debruçando-se, recorrentemente, sobre as concepções de discurso, sujeito e suas relações. Ao fazer isso, entretanto, mobiliza todo um quadro conceitual robusto, testando os limites de suas fronteiras e alcances. b2ap3_thumbnail_Os_limites_do_discurso.jpg

 

b2ap3_thumbnail_Questoes_para_analistas.jpg Em Questões para analistas do discurso (Parábola Editorial, 2009), uma coletânea de 14 textos, encontram-se muitas das contribuições do autor à Análise do Discurso. Discutindo conceitos basilares da AD, ele constrói um percurso que passa por temas relevantes, como o da imbricada relação entre a Análise do Discurso e a Linguística; o das relações entre língua/sentido, discurso/língua, discurso/texto; o da relação entre enunciação, estilo e autoria; o da relação entre história e acontecimento, entre memória e esquecimento, entre outros. Novamente, o tom é de reflexão aguda, que não poupa o leitor de inquietações.

 

Comentei até aqui trabalhos em Análise do Discurso, privilegiando uma linha teórica. Mas há outras – sólidas, produtivas e interessantes. O livro Estudos do discurso: perspectivas teóricas, de Luciano Amaral Oliveira, apresenta diversas perspectivas teóricas de estudos do discurso, além de dar a conhecer o pensamento de teóricos que influenciaram diretamente a constituição e renovação dessas teorias. b2ap3_thumbnail_Estudos_do_discurso.jpg

 

b2ap3_thumbnail_Texto_e_seus-conceitos.jpg A análise de textos, portanto, pode se dar a partir de diferentes perspectivas discursivas e, assim sendo, a questão “Como ler um texto?” pode ser respondida de formas distintas. A própria noção de texto se altera, a depender do mirante teórico. O livro O texto e seus conceitos, organizado por Ronaldo de Oliveira Batista, que aborda o texto como categoria de análise, apresenta como diversas áreas de estudos da linguagem, incluindo perspectivas discursivas distintas (a perspectiva bakhtiniana, a da Análise do Discurso de linha francesa, a semiótica) concebem o texto.

 

O mesmo se pode dizer em relação à noção de gênero do discurso – conceito que, no Brasil, em função de sua centralidade nas propostas de ensino de língua portuguesa, está sempre associado ao tratamento de textos. A concepção de gênero do discurso se define em função do arcabouço teórico em que é formulada. O livro Gêneros: teorias, métodos, debates, organizado por J. L. Meurer, Adair Bonini e Désirée Motta-Roth, mapeia diversas formulações do conceito, construindo um rico painel que apresenta a noção, tal como concebida a partir de abordagens sócio-semióticas, sócio-retóricas e sócio-discursivas. b2ap3_thumbnail_Gneros-teorias-mtodos_20170512-141630_1.jpg

 

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Conversa com Antonio Candido
Você trabalha com produção de texto? Leia isso ago...

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Comentários 1

Visitantes - Ar.canjo em Quarta, 30 Março 2022 19:41

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