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  O livro História do Português, de Carlos Alberto Faraco, publicado pela Editora Parábola, aborda desde conceitos sociopolíticos a conceitos linguísticos.

Quem pensa ou acha que fatores sociais, culturais e políticos não se relacionam com a língua, está muito enganado. Todos esses fatores, principalmente o político, influenciaram na chamada língua portuguesa.

Acredita-se, ainda nos dias de hoje, que a língua é homogênea, inflexível, não suscetível à variação e à mudança. Porém, esse pensamento é uma falácia, visto que a língua participa de uma sociedade e esta, como afirma Faraco, é uma totalidade complexa, heterogênea, contraditória, simultaneamente integrada e em constante devir. Tais aspectos fazem com que a língua esteja em constante variação, resultando em uma mudança linguística. Viu como a língua não varia e muda aleatoriamente? Há fatores que impulsionam isso.

Entendida tal reflexão, partimos para a história da língua portuguesa.

Tudo começou no noroeste da Península Ibérica, numa região em que se encontram hoje os territórios da Galiza e do norte de Portugal, com os desdobramentos do latim, língua trazida pelos romanos.

A conquista romana não foi fácil de acontecer. As populações que habitavam ali resistiram por dois séculos. Isso abriu margem para o isolamento da região e para outros povos a conquistarem, foi o caso dos suevos e árabes. O contato entre esses povos e os do noroeste da Península Ibérica trouxe efeitos significativos nos aspectos linguísticos. Ainda hoje, por exemplo, há palavras árabes em nosso léxico: açúcar, algodão etc.

Após várias guerras e conquistas territoriais, o reino de Portugal se forma; por conseguinte, a língua portuguesa — oriunda do galego (ou galego-português) falado ao norte, em séculos de transformação do latim vulgar, como também dos múltiplos contatos linguísticos —  vai ganhando espaço, até que ela se torna a língua oficial do reino português.

Estabelecido, Portugal, com a exploração marítima, se expande para outros continentes, chegando à Ásia, à África e à América. Dessa forma, a língua portuguesa se mistura às línguas desses continentes e recebe novos aspectos lá; logo, efeitos significativos aparecem nela.

Como dizia Roland Barthes: “Língua é poder”. Por muito tempo, povoando esses continentes, Portugal impôs seu poder por meio da língua. Deu certo no primeiro momento, depois, essa tática não surtia mais resultados, até que perdeu o total domínio sobre as colônias (de toda maneira, elas conservaram a língua portuguesa como língua oficial).

Voltamo-nos ao Brasil: para a língua chegar ao estágio atual, sofreu diversas mudanças devido à vinda dos africanos, às imigrações e a outros fatores.

A ideia da língua culta e da língua popular, do certo e do errado, é originada lá no passado; a língua falada pela elite era chamada culta, enquanto a falada pela não elite era chamada popular. Esses conceitos ainda estão impregnados na mentalidade dos brasileiros. O que torna, muitas vezes, difícil o trabalho do professor de língua portuguesa para explicar que não existe o certo e o errado, mas o adequado e o inadequado para certa situação de comunicação.

Este livro deve ser lido não apenas por profissionais da área de Letras: deve ser lido por todos. Em uma linguagem muito simples, Carlos Alberto Faraco explica do passado ao presente todos os processos que a língua sofreu e o porquê, assim como a origem de muitos conceitos cristalizados em nossa mentalidade.

 

Resenha de Milena Araújo Marães, licenciada em Letras - Língua e Literatura Portuguesa pela Universidade Federal do Amazonas e atual professora de língua portuguesa da Secretaria de Educação do Estado do Amazonas.