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Neste ano de 2019, a Linguística brasileira comemora os 50 anos de um dos seus mais significativos projetos – o NURC-Norma Linguística Urbana Culta. Para registrar e celebrar esse aniversário, a Parábola Editorial está lançando o livro NURC 50 anos: 1969-2019, organizado pelo Professor Miguel Oliveira Jr., atual presidente da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN).

A obra reúne artigos que recuperam a história do Projeto e fazem um balanço dos inúmeros estudos realizados a partir dele, estudos que contribuíram não só para um melhor conhecimento do português brasileiro, como também para a formação de novos pesquisadores.

Esse panorama geral dá a dimensão da relevância do NURC. O projeto se ressentiu, como boa parte, senão a maioria dos projetos da ciência brasileira, da falta de recursos. Apesar disso, pelo esforço das equipes locais, constituiu um valiosíssimo banco de dados da língua culta falada.

Seu caráter sistemático trouxe uma nova direção para os estudos empíricos do português brasileiro, superando iniciativas impressionistas (embora não por isso irrelevantes) que caracterizavam a tradição investigativa anterior. Foi, nesse sentido, como bem destacou a Profa. Rosa Virgínia Mattos e Silva, um divisor de águas nos estudos linguísticos brasileiros.

NURC foi fundamentalmente um projeto de dialetologia urbana. Tinha, como objetivo principal, constituir um registro da norma culta falada no Brasil. Não de uma norma imposta segundo critérios externos de correção, mas de uma pluralidade de normas objetivamente comprovadas no uso oral, respeitadas as diferenças socioculturais do país.

 

Esta obra comemora os 50 anos do Projeto NURC. Nada melhor que rememorar as contribuições desse projeto ao avanço da Linguística Brasileira.

Ataliba T. de Castilho

 

O Projeto incluiu cinco capitais, quatro fundadas no século XVI (Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo) e uma fundada no século XVIII (Porto Alegre), distribuídas pelas três regiões mais densamente povoadas do país (Nordeste, Sudeste e Sul).

Os informantes, todos com educação superior completa e estratificados por idade e gênero, foram gravados em três situações diferentes: diálogo entre informante e documentador, diálogo entre dois informantes e elocuções formais (aulas, conferências). O corpus atingiu o total de 1.870 inquéritos, com o registro de 2.356 informantes, perfazendo, aproximadamente, 1.570 horas de gravação.

Essa amostra tem sido objeto de inúmeros estudos desde trabalhos de iniciação científica até teses de doutorado. E alimentou outro Projeto coletivo de grande proporção e importância para os estudos linguísticos brasileiros – a Gramática do Português Falado, iniciado, em 1988, sob coordenação do Prof. Ataliba Teixeira de Castilho, cujas análises se apresentaram inicialmente em oito volumes e estão, agora, consolidados na segunda edição da Gramática do Português Culto Falado no Brasil.

NURC motivou também o surgimento de muitos outros projetos coletivos, tais como, entre outros, o PEUL, o VARSUL, o VALPB, e o PHPB, além do ALIB – projetos que buscam trazer um retrato do português brasileiro em suas muitas variedades sociais e regionais (não apenas da chamada ‘norma culta’) e traçar nossa história linguística e social nestes quase 520 anos.

Várias equipes do NURC replicaram as pesquisas na década de 1990, o que permite observar tendências de mudança na norma culta brasileira falada no espectro de vinte anos, um período que assistiu a inúmeras transformações no perfil da sociedade urbanizada do país. O NURC adquiriu, assim, uma relevância também para estudos linguístico-diacrônicos.

Desde 2012, desenvolve-se o NURC Digital que visa propor uma metodologia de organização de um corpus representativo do acervo do Projeto NURC, em formato digital, que pode servir como modelo a ser adotado para a informatização de todo o material pertencente ao arquivo do Projeto. Os resultados do projeto NURC Digital beneficiam diretamente a comunidade científica, que passa a ter disponíveis para consulta otimizada dados – anteriormente de difícil acesso – em formato digital de alta qualidade, devidamente catalogados, etiquetados e transcritos.