LINGUÍSTICA TEXTUAL

 

TEXTUALIDADE – NOÇÕES BÁSICAS E IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

 

A Irandé Antunes, nos seus 80 anos

 

 

Para alegria nossa, leitore(a)s seus do Brasil inteiro, Irandé Antunes, aos 80 anos completados em 27 de julho de 2017, vive a primavera, floresce de modo pleno. 

 

Quem recebe a distinção de fazer parte de seu círculo íntimo não contém a admiração diante de sua energia e de tanto e tão constante empenho em estar perto e disponível para acolher sua família e seus amigos, que são miríade.

 

Quem tem a oportunidade de ler seus livros e de viver a sensação de entrar não num livro, não numa exposição doutoral, mas numa conversa face a face, inevitavelmente se contagia pelo entusiasmo da Autora e por sua luta de mais de 50 anos na elaboração de pontos nucleares de uma educação linguística mais coerente, coesa e de incidência explícita sobre a realidade brasileira do ensino de língua materna em todos os seus níveis.

 

Quem tem a honra de editar seus livros desde 2003 vê a consolidação da figura pública de uma Autora que, de um já remoto: “Quem é esse Irandê Antunes?” — assim mesmo com um ê circunflexo e perguntando por um autor, não por uma autora —, veio a se tornar a mais amada escritora da Parábola Editorial, atentamente lida e ouvida no país todo por estudantes de Letras e professore(a)s  de todos os níveis de ensino. Basta ver a boa acolhida de todos os seus livros, constantemente reeditados: 

 

Aula de português – Encontro & interação

 

Análise de textos – fundamentos práticos

 

Gramática contextualizada – Limpar o pó das ideias simples

 

Língua, texto e ensino – outra escola possível

 

Lutar com palavras – Coesão & coerência

 

Muito além da gramática – Por um ensino de línguas sem pedras no caminho

 

Território das palavras – Estudo do léxico em sala de aula

 

E, mesmo assim, Irandé hesita, sabiam?

 

Toda vez que um livro novo se gesta, derivando de uma necessidade detectada em suas muitas viagens para falar com seu público em todo o país, ela se toma de angústia e de receios de estar se repetindo, citando a si mesma, repisando o já dito por muito(a)s antes dela. E então, corre para o telefone, e seu editor lhe assegura: “Irandé, temos mesmo de repetir os princípios de uma educação linguística que acolha e respeite o falante pleno que chega à escola e nela permanece — ao menos é o que desejamos — por todo o ciclo da educação básica. Repetir, insistir, repisar os princípios de uma pedagogia de ensino na qual acreditamos [uma pedagogia da variação linguística] é um dever de civilização, é tarefa política à qual não podemos nos furtar. Vamos, sim, repetir os princípios sob um novo ângulo, até conseguirmos alguma mudança, mínima que seja”. 

 

Contudo, em se tratando de Irandé Antunes, repetição repetição não há. O que temos é uma obra entremeada, intertextual, que dialoga com o público a partir das necessidades teóricas constatadas pela Autora in loco  e face a face. Basta olhar o objeto de cada livro acima mencionado para nos dar conta da variedade de propostas feitas por ela e que, por si, já daria novo rumo e resposta à pergunta já antiga que os linguistas são chamados a responder: “Se não é para ensinar gramática, é para ensinar o quê?” Ora, consciente de que a gramática não deve ser o único eixo do ensino de língua, Irandé Antunes vem respondendo a essa questão em cada novo livro seu, como veremos agora em Textualidade – noções básicas e implicações pedagógicas (2017: 151): 

 

O que os linguistas defendem é que não dá mais para ensinar APENAS gramática. Defendem — como acabamos de demonstrar — que a gramática é um componente da língua, não o único. É um componente necessário, mas não suficiente. 

 

Aqui se ancora o compromisso didático-político de nossa Autora: escrever para quem está em sala de aula, ou se prepara para assumir uma em breve. Irandé Antunes dedica sua obra inteira a apresentar as possibilidades que as ciências da linguagem trazem para o ensino de língua num tom de conversa íntima que faz com que professores e estudantes entendam o que, muitas vezes, vem revestido de um hermetismo intencional, de um falar só para os pares acadêmicos, mesmo quando se trata de introduções às várias áreas do saber linguístico. Por isso, ela queria subtitular o novo livro que aqui apresentamos como um “um começo de conversa” sobre linguística textual diante da constatação de que o(a)s professore(a)s da rede são vítimas históricas de grande descontextualização do conteúdo linguístico e, a essa altura, da falsa necessidade de preservar um ensino engessado, que não leva em conta o aluno, que não olha a aluna no rosto para poder partir da plenitude desses seres falantes que enchem nossas salas de aula.

 

Os “vazios teóricos” que Irandé detecta nesse público viram livros. Desde Aula de português – Encontro & interação, é sempre a mesma dinâmica que move a Autora: falar com e para quem está no começo, “graduandos de Letras e de Pedagogia, professores recém-formados ou aqueles que já se ocupam da educação básica” (2017: 16). Tudo para evitar que “equívocos e entendimentos simplistas” (2017: 17) sigam dando tom, forma e conteúdo à atuação profissional desse contingente de profissionais que não encontra “facilmente obras que, sem descurar de uma boa fundamentação teórica, atendam às suas condições de ‘iniciantes’, fazendo, para eles, quase uma ‘tradução’ do que propõem as teorias mais atuais” (2017: 17). Aí está a intenção da obra toda de Irandé Antunes e, especialmente, deste Textualidade – Noções básicas e implicações pedagógicas

 

Haveria muito a dizer, mas o espaço já se extingue... Resta apenas destacar a decisão da Autora de se postar na linha de frente da transmissão do acervo de conhecimento das ciências linguísticas aos professores. Se para isso for preciso repetir o que já soa por demais conhecido nas esferas acadêmicas, não há problema. O público de fora dos muros da academia, profissionais angustiados em sala de aula, são um contingente muito mais amplo, de cuja atuação bem [in]formada depende a transformação educacional que todos almejamos e na qual, contra todas as forças retrógradas, nos empenhamos. E quando esse conteúdo é transmitido com a força persuasiva da prosa de Irandé, a transformação começa a nos parecer possível e próxima. Vamos lê-la então e ver como transformar nossa prática de ensino.

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Irandé, parabéns pelos seus 80 anos e obrigado pela fecundidade, por tudo o que nos ensina. Não à toa você se apresenta sempre como “professora de português”. Por você nunca ter se distanciado de seus pares, seu público é unânime em dizer: 

 

“Todos amam Irandé!” 

 

É verdade. Todos nós a amamos.