5LER-E-ESCREVER

 

Professores que atuam com jovens no ensino médio deparam-se, cada vez mais, com o desafio de apoiá-los para que melhorem suas capacidades de leitura e de escrita, ampliem suas possibilidades de usar a linguagem, seja ela verbal ou não verbal, em especial dentro da escola, mas também fora dela. Mesmo que a formação específica desses professores não seja em língua portuguesa, não devem desconsiderar esse desafio ou evitá-lo.

 

Trabalhar com a produção de textos, estimular a oralidade, incentivar as mais diferentes leituras é tarefa de todas as disciplinas. Com mais ou menos dificuldades, acreditamos que todos os professores podem atuar ampliando as capacidades de linguagem dos seus alunos, das mais variadas maneiras. Assumir tal desafio exige, antes de mais nada, assumir que nunca estamos prontos como professores. Se, como dizia Paulo Freire, é “experimentando-nos no mundo que nos fazemos”, podemos dizer que é “experimentando-nos com os alunos que nos fazemos professores”.

 

Desde as práticas de escrita apreciadas pelos jovens, como cantar lendo letras de canção, e também as mais corriqueiras na escola, como fazer anotações de aula e responder perguntas sobre um texto, até as mais complexas, como produzir uma autobiografia e realizar um seminário, todas podem se converter em oportunidades de aprendizagem, com nossa atuação docente.

 

“experimentando-nos com os alunos que nos fazemos professores”

 

Em todos esses casos, é preciso perceber e criar possibilidades para a participação ativa dos jovens, lendo, ouvindo, falando e escrevendo em situações significativas do cotidiano escolar.

 

Assim, sugerimos uma síntese de alguns princípios. Esperamos que sirvam como referências para as atividades a serem desenvolvidas com os estudantes do ensino médio.

 

DECÁLOGO PARA ENSINAR A LER E A ESCREVER NO ENSINO MÉDIO

1. Leia com os alunos, compartilhe com eles seus gostos e preferências e evidencie os diferentes objetivos da leitura – por prazer, para criticar, para se conhecer, para aprender... Os jovens aprendem muito quando gostam do que leem e quando podem trocar ideias sobre o que leram com os colegas e o professor.

2. Repertório é o ponto de partida: é preciso unir saber e sabor. Selecione um conjunto de textos a serem lidos ao longo do ano, de acordo com a sua disciplina, que sejam, ao mesmo tempo, interessantes para os jovens e úteis para os objetivos de ensino. Literatura, jornalismo, música, arte, teledramaturgia, fotografia, grafite, publicidade são excelentes fontes de pesquisa e de leitura e contribuem para o aprendizado.

3. “Entre no texto pela porta da frente”: considere, sempre que possível, as funções e os modos de ler que caracterizam cada gênero. O artigo de opinião deve instigar a tomada de posição sobre o tema e os argumentos do autor; o texto literário possibilita, em primeiro lugar, a fruição estética; o “texto didático”, típico da escola, deve deixar clara para o aluno a relevância do tema em estudo e das informações que constam do texto.

4. Amplie as razões para os alunos lerem e escreverem: as funções da leitura e da escrita vão além do cumprimento de uma tarefa e da demonstração de que o aluno estudou/memorizou os conteúdos.

5. Sempre que possível, utilize outros materiais escritos como apoio (livro didático, fichas, textos avulsos, livros, internet etc.). O tempo e a energia gastos pelos alunos com a cópia do quadro podem ser investidos na reflexão, no debate e na produção escrita.

6. Diversifique as atividades de escrita. Não só as provas, problemas e exercícios de pergunta e resposta são modos válidos de expressar aprendizagem. Torne relevante, no desenvolvimento da sua disciplina, a produção de relatos pessoais, relatos de experimentos científicos, artigos de opinião, murais com imagens e legendas, textos literários, roteiros para seminários, resenhas críticas, entre outras possibilidades.

7. Crie maneiras de ler os textos produzidos pelos alunos e de dar devolutivas, comentando suas produções. É estimulante para o jovem saber que alguém se interessa pelo texto que ele criou, dialogando, intervindo, sugerindo e também avaliando e corrigindo.

8. Vá direto à fonte. Em vez de apenas falar sobre um assunto, ofereça textos de divulgação científica, reportagens, biografias, relatos históricos, livros paradidáticos; em vez de resumos ou de textos que falem sobre a produção literária de um autor, coloque os alunos em contato com os próprios textos literários; leve-os para conhecer “ao vivo e a cores” parques, monumentos, exposições e museus; realize estudos do meio, com visitas orientadas, sempre que relevante e possível.

9. Evite atividades puramente mecânicas, como o treino para o vestibular. Essa é uma estratégia questionável diante das novas formas de ingresso no ensino superior e da tendência atual de boa parte dos vestibulares, que exigem menos memorização de conteúdos e mais reflexão, análise e síntese.

10. Ler e escrever na escola deve auxiliar também na preparação para o mundo do trabalho. Saber escrever uma carta de candidatura a um emprego, preparar um currículo e compreender textos próprios de tarefas administrativas são conhecimentos úteis para muitos jovens que já trabalham ou que desejam trabalhar tão logo finalizem o ensino médio.

 

Esse conjunto de princípios pode tornar as atividades de leitura e de escrita realizadas no ensino médio mais significativas para o jovem. Obviamente, tais princípios só ganham sentido se trabalhados dentro da realidade de cada localidade, de cada escola, de cada sala, de cada disciplina, caso contrário eles se tornam mera listagem de procedimentos.

 

Como ler e escrever para aprender é o princípio que une todas as disciplinas na escola, pode-se dizer que ler e escrever é responsabilidade de todos os professores e de todas as áreas. Certamente, um desafio que a escola precisa enfrentar, nas miúdas ações cotidianas.