A gramatização da língua portuguesa no Brasil, das origens aos nossos dias
Diversos estudos têm mostrado que, no Brasil, a produção de gramáticas da língua portuguesa esteve sempre sujeita ao modelo greco-latino, e ainda hoje revela diversos traços caracterizadores desse modelo.
As mudanças que podem ser identificadas ao longo de nosso processo de gramatização – como na passagem do viés filosófico ao científico, no final do século XIX, ou a partir do advento da “virada linguística”, na segunda metade do século XX – não foram suficientes para alterar aquele modelo. Embora já no final do século XVI a língua falada no Brasil mostrasse traços evidentes de um distanciamento em relação à língua falada em Portugal, somente no século XIX a diferença entre as modalidades brasileira e europeia do português ganhou visibilidade, e a discussão acerca dessas diferenças é algo que se estende, com nuances e graus de intensidade diversos, até os dias de hoje.
De fato, toda a construção do saber sobre o português do Brasil parece ocorrer numa relação de comparação entre ambas essas línguas, e é curioso constatar que a tradição gramatical brasileira do português, desde suas origens, pôs-se, em linhas gerais, a favor do purismo lusitano. |
Pode-se dizer, portanto, que, das últimas décadas do século XIX ao final do século XX, houve manutenção epistemológica em nossa produção gramatical. |
Essa recorrência, porém, vem tentando ser quebrada por algumas frentes de gramatização emergentes na linguística brasileira contemporânea. Os instrumentos gramaticais que daí resultam pretendem, a partir de novas diretrizes epistemológicas, gramatizar a língua do Brasil atual (tanto a falada quanto a escrita), em geral nomeada de “português brasileiro”.
Nesse cenário, Draª Ana Maria Costa de Araújo Lima (UFPE) e Dr. Francisco Eduardo Vieira da Silva (UEPB) coordenam um simpósio durante a XXVI Jornada do Gelne, que acontece de 11 a 14 de outubro de 2016 em Recife, PE, que pretende congregar trabalhos que discutam temas relacionados à gramatização da língua portuguesa no Brasil, das origens aos nossos dias. Ele oportuniza a apresentação e discussão de estudos que, embora de diferentes espaços teórico-metodológicos, orbitem em torno desse macrotema. A ideia é que sejam apresentados trabalhos que:
- analisam o tratamento gramatical conferido a aspectos morfossintáticos do português brasileiro;
- refletem sobre os conceitos de norma e variação linguística e/ou descrevem variedades brasileiras do português, sob perspectivas sociolinguísticas ou funcionalistas;
- mudanças linguísticas do português brasileiro;
- apresentem resultados das análises de instrumentos contemporâneos de gramatização do português, tais quais gramáticas tradicionais de base filológico-normativa, gramáticas escolares/didáticas/pedagógicas da língua portuguesa para a educação básica, além das recentes gramáticas do português brasileiro elaboradas à luz de novas frentes de gramatização de base linguístico-descritiva.
- Analisem e interpretem as diversas fontes do pensamento filológico-gramatical brasileiro, no que diz respeito a autoria, periodização, conceitos, teorias, arcabouços descritivos e categoriais, construções discursivas, representações ideológicas, entre outros aspectos e reflexos envolvidos no fazer historiográfico.
Objetivando assim, confrontar os estudos sobre gramatização no Brasil e apontar sua direção nos dias de hoje, por meio das gramáticas brasileiras.
Este texto é parte integrante do Simpósio 51 apresentado durante a XXVI Jornada do Gelne.
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