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Foi uma experiência muito especial voltar a um livro escrito por mim e pela Profª Maria Alice Fernandes de Sousa, em 2008. Um livro que ficou meio esquecido, embora, de fato, seja a gênese de alguns outros que vieram depois  todos visando um diálogo com professores, desde a alfabetização até os estágios avançados do ensino da língua portuguesaFalar, ler e escrever em sala de aula: do período pós-alfabetização ao quinto ano, publicado pela Parábola Editorial, faz parte de uma série coordenada por mim, “Ensinar leitura e escrita no ensino fundamental”, que contemplou alfabetização (do primeiro ao quinto ano), pós-alfabetização (do sexto ao nono ano) e EJA. Entre os autores da série, estão competentes autoras/professoras que fizeram pós-graduação na Universidade de Brasília (UnB).

Com esse livro, dei início a uma proposta epistemológica tridimensional que haveria de me acompanhar nos anos seguintes até a atualidade. Passo a descrevê-la: o trabalho pedagógico com a língua materna na escola brasileira tem de contemplar uma abordagem incidental, uma abordagem holística e uma abordagem indutiva. Agora, ilustro essas abordagens com excertos do livro mencionado.

O modo de trabalhar deve ser incidental em virtude do caráter multidisciplinar do conteúdo que se quer ensinar. Sempre que há oportunidade, professores e alunos se envolvem nos mais variados temas, respeitando a idade e o desenvolvimento sociocognitivo dos alunos. A agenda da professora será suficientemente flexível para incorporar temas emergentes na interação da sala de aula. Ao escrever com seus alunos uma cartinha à aluna que sofreu um acidente, a professora aproveita para explicar que essa coleguinha sofreu uma fratura no fêmur, discorrendo superficialmente sobre os ossos do corpo humano.

A abordagem é holística porque todo o trabalho tem início com um episódio real de língua oral ou escrita e, no seu desenvolvimento, contempla as habilidades e competências envolvidas na mágica do falar, ler e escrever, que se apresentam na vida cotidiana dos alunos. Sempre que oportuno, a professora traz informações sobre variações linguísticas para a sala de aula.

A abordagem é indutiva porque segue um processo de “baixo para cima”: em cada atividade, os educandos estarão processando novos conhecimentos, reorganizando e reconceptualizando outros. Mas há também uma sistematização de caráter dedutivo (gramatical, teórica e pedagógica), que no livro aparece em caixas colocadas nas margens. Uma delas, por exemplo, trata da troca de turnos e dos pares adjacentes na análise da conversação.

Algumas habilidades e competências de letramento recebem tratamento especial, mais enfático e mais constante:

(a) os modos de falar (transição da língua oral para a língua escrita, regras fonológicas variáveis, marcadores discursivos, dêiticos etc.);

(b) os modos de ler textos contínuos ou não, esses últimos trazidos em quadros, tabelas e gráficos; e

(c) modos de escrever: a produção de textos sociais de diferentes gêneros com os quais os alunos tenham ou venham a ganhar familiaridade.

Enfim, o livro em discussão tem 160 páginas e acredito que possa trazer uma contribuição relevante à formação dos nossos professores.   

 

 

CTA: Falar, ler e escrever em sala de aula: do período pós-alfabetização ao quinto ano.