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Paulo Coimbra Guedes

 

 1972, ingressei na equipe que dava aulas de redação técnica para os alunos do primeiro semestre de todos os cursos da UFRGS; em 1974, me convidaram para dar aulas de redação jornalística, disciplina do curso de Jornalismo, ministrada historicamente por um professor do curso de Letras. Não era a mesma coisa que dar aulas pra calouros, mas, quando eu ainda era aluno da graduação, tinha dado umas aulas pra eles como monitor de uma disciplina comum aos dois cursos. E eles tinham me tratado bem, mas, se não tivessem, eu topava igual: eu fui pro curso de Letras porque queria ser escritor. “Vai que ensinando a escrever” — pensei eu — “acabo aprendendo a fazer isso”. Fui.   

         Perguntaram quem eu achava que era pra me meter a dar aula pra eles, e eu mandei escreverem sobre as recentes notícias de pessoas que, na Europa e nos Estados Unidos, tiravam toda a roupa e saíam correndo pela rua. Recolhi os textos, levei pra casa e, com uma caneta vermelha, enchi todos de comentários. Desde que eu tinha começado a dar aula, sete anos antes, eu já fazia uma espécie de diário, onde registrava o que acontecia nas aulas, o que eu planejava, os resultados, o que funcionava, o que emperrava e copiava e comentava coisas que os alunos escreviam: coisas erradas, estranhas, interessantes: palavras, frases, trechos.

         Devolvi os escritos na aula seguinte e discutimos. Dei outro, recolhi, li, comentei em vermelho, devolvi, e assim foi, até que, com o passar dos anos, estabeleci um conjunto de temas e a prática de escrever em casa e cada um ler o seu texto em voz alta, na aula. Tudo isso e mais um pouco mais está contado em Da redação à produção textual. Lá diz que redações escolares são escritos em que os alunos escrevem o que a escola convenceu eles que é obrigatório dizer. Lá diz também que isso não vale a pena escrever. O que vale a pena escrever é texto, que tem a finalidade de dizer o que o autor quer dizer a respeito do assunto de que trata. Para virar texto, o escrito tem de ter quatro qualidades: unidade temática, objetividade, concretude e questionamento. Em Da redação à produção textual essas qualidades são definidas, descritas e exemplificadas em vários textos de várias origens. Em síntese, lá se ensina a escrever textos, que são muito mais interessantes de se escrever e ler do que redações escolares.

Todo mundo vai concordar também que, melhor do que ler textos, é ler bons textos, textos bons. Pois, com aquelas coisas estranhas que eu achava nos textos dos alunos e copiava naquele meu diário, fui organizando um outro manual de redação, que tem a finalidade de transformar textos — escritos que já não são mais redações escolares — em bons textos, em textos bons. Foram alguns anos de trabalho, mas consegui fazer: escrevi um outro manual de redação, que se chama Gramática e estilo.