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Em tempo de pandemia, de distanciamento, de isolamento, a ressignificação de algumas ações acaba por nos aproximar de pessoas que, talvez, de outra forma não aconteceria. O agradecimento que farei a seguir, é um exemplo disso.

 

Cara professora Vera,  

Nós, professora Marileuza e professores em formação inicial do quarto ano de Letras da Unespar, campus de Campo Mourão – Pr., estamos passando por aqui para agradecê-la pela oportunidade que tivemos de poder vê-la e ouvi-la no minicurso intitulado “Como se aprende uma língua estrangeira”. Nele, você abordou conteúdos que faziam parte do Plano de Ensino da turma supracitada. E eu, enfrentando minhas dificuldades com a falta de conhecimento para preparar minhas aulas remotas, ao tomar conhecimento dele, fiz minha inscrição. A cada encontro, fui anotando o que poderia ser observado pelos estudantes e, depois de assistir a cada um deles, produzi um conjunto de orientações para que assistissem a eles também. Sugeri, inclusive que fizessem a inscrição para que pudessem ter certificação. A finalização da tarefa foi um fórum de discussão pelo Moodle, ferramenta utilizada por nós, em tempo de pandemia. Ao ler as interações que ocorreram, senti um forte desejo de agradecê-la, por três motivos: 1º seu minicurso me ajudou em um momento que eu estava sem saber como preparar minhas aulas remotas acerca do que foi tratado por você; 2º perceber o comprometimento dos estudantes nas interações foi muito gratificante; 3º sentir que suas inquietações se aproximam de nossas inquietações nos dão pistas de quão necessária é a formação continuada e do quanto precisamos de políticas públicas que venham ao encontro da formação docente. Professora, pedi autorização a eles para compartilhar alguns fragmentos de suas interações. Foram unânimes no SIM e também na autorização para transcrever algumas de suas falas. Lá vão elas:

 

“[...] então me peguei refletindo sobre o momento em que você diz que o minicurso foi interessante pra ti porque te ajudou a desmistificar a ideia de que cada concepção está fechada em caixinhas, que elas não se misturam etc. Eu me desapeguei dessa visão tem um certo tempo [...]” P.M.

“No final com todos os vídeos assistidos, pude perceber todo processo que se deu dos estudos   da língua inglesa até os dias atuais, e como cada   contribuição dos estudos são úteis para todo e   qualquer sujeito que queira aprender uma língua   estrangeira, sem exclusão da forma como cada   um prefere ou aprendeu a aprender [...]” M.P.

 “Em todos os vídeos a professora utilizou de uma linguagem bem simples e falou de forma bem didática e, na minha opinião, isso foi essencial para compreendê-la. Achei muito útil a distinção entre teoria e método que ela explica, sendo a primeira um conjunto de ideias, postulados científicos e o último um conjunto de procedimentos, de orientações a serem seguidas quando se ensina uma língua, que se constitui por teorias. É sempre muito interessante perceber como tudo está relacionado. Penso que essa distinção, feita desse modo tão simples e compreensível, pode colaborar muito para as nossas práticas futuras.” G.C.

“No fim, fiquei pensando: existem teorias, métodos e tecnologias de ensino que sejam ideais para o ensino de uma língua estrangeira? Na minha opinião, concordando com a professora nas diversas vezes que ela falou isso em todos os vídeos, não há teorias, métodos e tecnologias que sejam os melhores, os ideais. Acredito que nenhuma teoria exclui a outra, assim como nenhum método e nenhuma tecnologia excluem os que vieram antes, pelo contrário, eles se complementam e podem ser usados da forma que for mais adequada para cada contexto, pois não precisamos parar de utilizar o que veio antes porque chegou uma novidade, não é assim que deve acontecer.” G.C.

  

 “Deixo aqui, então, o meu questionamento e também angústia de todos esses anos: com qual finalidade é ensinado o inglês, no nosso caso, nas escolas públicas, visto que os alunos, na maioria das vezes, não aprendem a língua nesse contexto? E por que não aprendem? Acredito que essa seja uma dúvida de muitos, pois os estudantes da Educação Básica na minha época de PIBID sempre perguntavam por que precisavam aprender inglês, sendo que eles não utilizavam essa língua na realidade deles. E eu nunca soube responder muito bem, porque a minha relação com a aprendizagem da língua inglesa também nunca foi das melhores.” G.C.

“Me sinto, de certa forma, na obrigação de participar dessa conversa especificamente, porque, assim como a G., a pergunta ‘Com qual finalidade é ensinado o inglês, no nosso caso, nas escolas públicas, visto que os alunos, na maioria das vezes, não aprendem a língua nesse contexto?’ me perseguiu no ano passado inteiro [...] A explicação colocada pela professora, de que ‘[...] a opção pelo ensino de Língua Inglesa extrapola a compreensão de um ensino como mero equipamento instrumental, sendo necessário considerar que uma língua é composta por um conjunto de signos e que esse conjunto de signos pressupõe maneiras de pensar’ me conforta até certo ponto, pois, me parece que escapam aí os contextos, já que essas ‘maneiras de pensar’ se relacionam com práticas sociais específicas, que muitos de nós e muitos de nossos alunos não vivenciaram, ou não vivenciarão. Isso dito, ainda não consigo — de mim para mim mesma — esclarecer um objetivo do ensino de língua inglesa na escola pública. Até porque, por minhas experiências com a aprendizagem de inglês e pelas experiências de colegas que já compartilharam aqui, na escola, o inglês não é ensinado conforme o entendimento de que a língua inglesa é um conjunto de signos ideológicos que existem na e pelas práticas sociais.” S.A.B.   

“No último vídeo, pude observar que as minhas dúvidas, aprendizados e dificuldades sobre a língua são os mesmos que dos alunos, pois cada um aprende de uma forma, principalmente quando observamos salas de aula cheias e apenas um professor mediador. A questão que fica para mim é, se eu, como aluna neste momento, compreendendo que aprendo de maneiras diferentes dos meus colegas de classe, vou conseguir identificar a forma que melhor se encaixa para cada aluno meu e conseguir oferecer suporte a ele numa sala lotada. Essa questão me acompanha a algum tempo e me deixa receosa, pois se para mim é tão difícil aprender uma língua estrangeira, possuindo subsídios para isso, como será para os meus alunos que talvez não tenham as mesmas condições ou que, talvez, simplesmente, não tenham motivação para isso?” K.G.

O quarto vídeo tem também a sua parte teórica e histórica, mas ela lança uma reflexão importantíssima sobre a era digital e sobre o acesso. Vera começa fazendo um apelo aos professores sobre o ‘acervo’ digital que eles têm (ou não) nas escolas e pede que eles não se desesperem caso não tenham computadores e coisas do tipo. Levarei essa ressalva dela muito em conta quando for meu momento de assumir uma sala de aula. No contexto em que vivemos de COVID-19, muitas coisas estão sendo adaptadas ao digital e acabam parecendo fáceis, mas não é bem assim. Professores sofrem por ter de lidar com a cultura digital de forma tão abrupta e muitos alunos sofrem para se adaptar. Além disso, é grande o número de estudantes sem um computador em casa para acompanhar as [...] aulas ofertadas pelo governo.

Para finalizar, Vera Menezes discorre um pouco sobre as experiências de aprendizes no processo de aquisição da Língua Estrangeira. Novamente, ela destaca a importância do Livro Didático em sala de aula. Na minha perspectiva, considero o que ela fala sobre o assunto como algo muito positivo. Em muitos casos, já fui aconselhada a deixar o material dos Livros Didáticos de lado e buscar outras referências, mas vi que não preciso fazer isso. Com toda a certeza eu usarei as ‘dicas’ que ela lança sobre a aprendizagem e sobre o ensino. De fato, no constante processo de aprendizagem de LE, uso muitas músicas, filmes, repetição, literatura e o contato.” N.E.

“[...] achei muito bacana sobre como a Vera Lúcia entende esse progresso de saberes nas perspectivas de ensino-aprendizagem, não como ‘excludente’ dos métodos anteriores, mas como uma progressão mesmo, sem desqualificar os aspectos positivos dos métodos anteriores. E acredito que esse posicionamento é importante para nós, que seremos professores. Há ricas pesquisas sobre os métodos, e acredito que novas perspectivas irão surgir conforme o tempo. Por que, ao invés de ‘travarmos’ em uma abordagem ou perspectiva, não usufruir do que nossos estudos permitem a partir do conhecimento das diferentes teorias e métodos que envolvem o ensino e aprendizagem? Bom, acho que isso é viável frente às várias personalidades que encontraremos na educação básica, nos rostos dóceis e inocentes dos adolescentes da geração Z, com diferentes demandas no processo de aquisição. Concordam comigo? Por quê?” P.H.B
 

“Apesar de todos esses esclarecimentos, de toda essa distinção fundamental que me ajudou a compreender faces do ensino de uma língua adicional ou estrangeira, eu ainda continuo me questionando de como colocar tudo isso em prática. Eu tive altos e baixos na minha experiência com a língua inglesa, momentos bons e ruis, progressos e regressos, e quero proporcionar uma experiência para os meus alunos muito melhor do que a que tive, não a mesma. Porque apesar da teoria começar a fazer um pouco mais de sentido para mim, é a prática que me preocupa, pois tenho consciência de que o tipo de conhecimento que vou mediar não vai apenas interferir na minha vida como também na de outros seres que estão em pleno processo de desenvolvimento.” T.M.N

        

A última aula trata de como se aprende uma LE. Essa aula me chamou atenção para os variados tipos de aprendizado de cada aluno. Como professor em formação inicial, me vejo em uma constante reflexão de como atender às necessidades de cada aluno e cada aprendizado subjetivo? Qual método ou teoria pode suprir essa individualidade? Essa constante reflexão nos seguirá em toda a nossa vida como profissionais da educação.” R.C.L.S.

“Outro fator que me chamou bastante atenção, foi a fala da professora no último vídeo do minicurso, no qual ela apresenta alguns relatos de pessoas que aprenderam uma língua adicional, dizendo como aprenderam, as quais ela chama de ‘aprendizes’. Os relatos revelam que a maior parte desses aprendizes desenvolveram a língua adicional a partir de músicas, filmes, livros, contato direto com falantes da língua que se está aprendendo etc. A professora indaga que quase nenhum dos relatos coloca o professor como o maior meio de aprendizagem de uma língua adicional. E isso me levou a uma reflexão, num ponto que eu nunca tinha parado para pensar: como que a maioria absoluta das pessoas que tem interesse em aprender inglês — coloco inglês especificamente, pois é nosso contexto enquanto futuros professores dessa língua — ou que estão aprendendo dia após dia, ao menos cita o papel do professor nesse processo? Estamos falhando como professores de língua inglesa no que concerne a incentivar os alunos pelo interesse de outra língua? Por que sempre as músicas, filmes, videogames e até livros — digo “até” porque sabemos da realidade nada leitora dos brasileiros — despertam mais os alunos para a língua inglesa do que o trabalho do professor em sala de aula na educação básica que dura anos e anos, pelo menos duas vezes por semana? Eu sinceramente não tenho respostas para meus questionamentos e talvez não esteja em busca de resposta para tais, porque, no fundo, sei da realidade do ensino de inglês nas escolas, até porque, já estive no contexto, sendo aluna. Contudo, me sinto incomodada com esse sentimento de, talvez, frustração futura com tudo isso. Eu sei que o professor pode e deve contribuir (e muito) para o aprendiz aprender a língua, uma vez que o professor deve fornecer e estimular os alunos a buscarem a própria aprendizagem e autonomia para além da sala de aula, levando-os a buscarem também suas próprias estratégias, incentivando-os a tomarem gosto pela língua inglesa, ou minimamente compreenderem algo sobre. Porém, como fazer isso? Para isso, sim, busco respostas internas e futuras na minha caminhada enquanto professora.” J.K.F

 

Gratos/as por nos ter oportunizado estar contigo nesse processo de formação. Eu, de maneira especial, me senti “aliviada” por poder “fazer uso”, no formato de curadoria, de seu trabalho/minicurso.

 

Suas contribuições são valiosíssimas e enriquecem nossa aprendizagem e desenvolvimento. Nosso muito obrigada. 

 

         

Campo Mourão, 01/06/2020.

Marileuza, Dhéssica, Gabriela, Gabriella Cândido, Henrique, Isabela, Keilla, Mateus, Natacha, Patricia, Pedro, Samara, Silvia e Thais.