5 dicas para lidar com o dilúvio de informações (acadêmicas)

 

Quero conversar sobre estratégias de publicação e sobre e a importância de compartilhar o que publicamos.

Se,  por um lado, a mudança na avaliação dos periódicos pode aumentar a pressão pela publicação “de qualidade”, por outro, ela trouxe um ótimo pretexto para que, juntos, possamos repensar a maneira com que escrevemos o gênero artigo acadêmico. E mais: a maneira com que o lemos, em tempos de tantas informações.

Quantos feeds você acompanha por dia? Quantas “linhas do tempo”? Quantas mensagens, por dia, lhe chegam por WhatsApp? Quantos e-mails? Uma vez que ciência sociedade fazem parte de uma mesma realidade, é natural que ambas vivenciem questões semelhantes, como a dificuldade de lidar com o dilúvio de informações as mais diversas. Todos os dias, surgem novos canais de comunicação por toda parte e escolher o que acompanhar fica cada vez mais complexo. Escolher o que ler é ainda mais complicado, num universo de hiperlinks por toda parte e de “pouco tempo” para textos com mais de três parágrafos. 

Nesse cenário, fica cada vez mais difícil encontrar artigos acadêmicos que nos interessem ou que possam ser úteis em nossas pesquisas. 

Como você ficou sabendo do último artigo que leu?

 

“[…] alguém me enviou por e-mail, algum dos pesquisadores que acompanho no Twitter recomendou, um colega da área postou no seu Facebook e me marcou em um comentário. ​Se pessoas com um interesse próximo do meu demonstraram interesse por aquele conteúdo, tenho muito mais chances de encontrar algo interessante ali. E, claro, caso encontre algo interessante, vou passar a recomendação adiante. Seja “retuitando” o link, curtindo o comentário, encaminhando o e-mail”, diz Átila Iamarino, no Blog Scielo.

 

Ler e ser lido mais, seguindo a tendência da implantação dos índices de impacto, pode representar mais alcance para as pesquisas de nossas áreas, mais estímulo para quem tá no começo da graduação e não sabe exatamente o que se faz na pós-graduação em Linguística e/ou Literatura e mais popularização das possibilidades de pesquisa tendo a língua como objeto teórico-metodológico. 

A seguir, sugiro 5 dicas para quem quer começar a compartilhar/descobrir pesquisas.

 

1. Tenha um perfil no Google Acadêmico 

Até a professora Celani tem. 

Que o Google é o principal buscador da Internet, hoje, já sabemos. O que nem todo mundo sabe é que existe uma “versão” da plataforma completamente dedicada à busca de material acadêmico, como artigos, resenhas, ensaios e afins. O Google Acadêmico consegue “rastrear” as publicações de nossa autoria e, olha que incrível, as publicações que citaram nossas produções. Além disso, criando um perfil, temos a chance de disponibilizar de maneira rápida links que poderão ajudar na divulgação de trabalhos, observar que produções de um pesquisador são as mais repercutidas e ter uma noção do “impacto” desses textos na área. A professora Celani, por exemplo, tem mais de 1.600 citações e não é à toa: ela é referencial teórico presente em muitas disciplinas de introdução à Linguística Aplicada. Afinal, o que é Linguística Aplicada, o segundo texto mais citado, é de 1992.

Além disso tudo, clicando em “seguir”, ao lado do nome de Celani, é possível se inscrever em seu perfil e receber alertas para publicações que tenham a ver com a atuação da pesquisadora. Para criar um perfil, basta acessar scholar.google.com.br e procurar por “Meu perfil”, no canto superior esquerdo. É preciso ter um Gmail.

  

2. Escreva/leia blogs

Blogs e espaços próprios para a disseminação de ideias, reflexões e, claro, pesquisas vêm se tornando uma realidade cada vez mais palpável na academia científica. A despeito da falta de meios de comunicação científica, que deu origem à necessidade dos periódicos acadêmicos, hoje é possível ter um perfil próprio, gerenciado por nós mesmos e livre de restrições algorítmicas (às vezes). No entanto, na universidade, especialmente na área de Linguística e Literatura, ainda há quem não veja sentido em investir tempo (já tão escasso na vida acadêmica) para esse tipo de empreendimento. Eu resisto.

Com a entrada dos índices de citação, até associações da área, como a ABRALIN (a Brasileira de Linguística, que lançou uma revista de divulgação científica chamada Roseta), têm elaborado maneiras de potencializar a popularização de pesquisas e discussões acadêmicas, de modo a complementar a comunicação científica (geralmente centrada na relação entre pares experientes), aproximando estudantes e leigos de nossos temas. Acompanhar espaços como esses também é fundamental, ao passo que exige menos tempo.

Dos blogs que acompanho e recomendo, destaco o Scielo em Perspectiva, o boletim informativo da Anpoll e o da Plataforma 9, o Ser Linguagem (e o blog da Editora Parábola, claro!).

  

3. Conheça redes sociais acadêmicas

Academia.edu é uma rede social acadêmica.

Sim, já existem redes sociais completamente voltadas para a interação entre pesquisadores sobre temas acadêmicos. Por esses canais, você consegue se aproximar ainda mais de pessoas da sua área, ter acesso aberto a uma quantidade enorme de publicações e divulgar com ainda mais precisão suas próprias pesquisas. Eu tenho perfil em três dessas redes: Mendeley (até agora, minha favorita), ResearchGate (em que encontrei publicações inéditas de autores fundamentais para o meu aparato teórico-metodológico) e Academia.edu. Em praticamente todas elas é possível seguir pessoas e compartilhar anexos. Um lado ruim para alguns de nós pode ser o fato de a maioria (ou todas) estar em inglês, sem traduções fáceis; mas vai que isso já ajuda no aprendizado do idioma?

O blog Bibliotecários Sem Fronteiras fez uma lista muito boa de redes sociais acadêmicas com a descrição de cada uma que citei aqui.

 

4. Se mostre e mostre as pesquisas de colegas

Temos muito medo de sermos acusados de vaidosos (mesmo os que o são). Vaidade, na academia científica, seja onde for, não costuma ser vista com bons olhos. Mas, considerando a linha tênue que pode existir entre vaidade e autoafirmação, nossa excessiva preocupação com a discrição ou o apagamento do pesquisador em detrimento da pesquisa acaba por prejudicar a comunicação científica mais do que contribuir para seu bom funcionamento. Nenhuma pesquisa nasce espontaneamente. Toda pesquisa surge de vários esforços empregados, muitas vezes, por muitas pessoas.

Esse empoderamento do “eu pesquisador” é pouco estimulado em vários níveis da trajetória acadêmica porque não deixa de representar um status (tema para outras conversas). O ponto é: não deve haver nada de errado em compartilhar no Facebook, no Twitter ou até no Instagram quando um artigo seu é publicado. Em Linguística e Literatura, especialmente, quem você é pode ser parte do que sua pesquisa é. E, uma vez que somos uma comunidade, também não deve haver nada de errado em compartilhar a pesquisa de um colega, fazendo com que cada vez mais gente tenha conhecimento daquele conteúdo.

Pense comigo: quanto tempo você passou lendo artigos, no último semestre, em relação ao tempo que passou lendo livros? Se você já publicou um artigo, quantas vezes você o recomendou a alguém ou fez algum tipo de divulgação dele? À medida que precisaremos saber o que andam publicando nossos pares, teremos de fazer com que eles saibam o que nós andamos escrevendo.

 

5. Saiba quem são seus pares

“Pares” é uma daquelas palavras que o mundo acadêmico ama. Tá ali ao lado de “epistemologia”, “aparato teórico-metodológico” e “peer review” e é como nos referimos a nossos colegas de área. No começo da trajetória acadêmica, na graduação, nossos pares são quase tão abstratos quanto as outras palavras que mencionei. É na participação em eventos, presença em bancas de qualificação e defesa e leitura de referências bibliográficas que vamos nos familiarizando com aqueles que fazem parte de nossa comunidade científica, aqueles cujos posicionamentos nos interessam e afetam mais diretamente.

É justamente por ser extremamente básico que conhecer nossos pares é fundamental na hora de lidar com o dilúvio de informações ao qual estamos sujeitos. O desafio deixou de ser onde encontrar vozes e passou a ser que vozes ouvir, no meio de tanta gente falando ao mesmo tempo. Procure compreender quem são suas referências teórico-metodológicas, onde elas estão, por onde elas falam, mas também quem as compartilha. Estabeleça contatos, quando for possível. Se sua pesquisa é sociolinguística, perceba quem também está nesse caminho. Se for análise de gêneros textuais, idem. Encontre os eventos específicos em que seus pares se reúnem e os periódicos nos quais costumam publicar. 

Engaje-se, basicamente!